
Transcrevi parte do texto da atividade de ECS porque está intimamente relacionado com minha vida e com a escola pública e a escola privada, assunto abordado e sobre o qual deveríamos descrever.
Todo o processo educacional reflete, em cada época a estrutura de uma sociedade. É evidente que as diferentes camadas e grupos sociais (classes) terão opiniões diferentes sobre a concepção de Educação. A luta em prol da escola pública no Brasil não seria diferente; ela é marcada por 4 períodos distintos.
Os anos 60 e 70 e se caracterizam pelos conflitos entre os defensores da escola particular e a escola pública. Os primeiros estavam agrupados em torno da Igreja Católica e defendiam uma concepção religiosa e humanista do ensino e, inclusive, reivindicavam um financiamento público, “bolsas de estudo” para garantir a liberdade de “escolha” dos pais. Porém não podemos esquecer que a escola pública, laica e gratuita surgiu para garantir a educação a todos. Cabe aqui fazer um relato pessoal que ilustra muito bem esse momento.
Em 1960, morava numa pequena cidade do interior (Rio Pardo) a escola pública garantia apenas a educação primária (com certeza nas cidades maiores a realidade era outra). O Ginásio que correspondia ao Ensino Fundamental de hoje, só podia ser cursado em uma única escola particular de freiras, naturalmente. Minha mãe, coitada, gastava “sola de sapato” atrás de bolsa de estudo para que meus irmãos, mais velhos do que eu, pudessem dar continuidade a seus estudos.
Já em 1964, ano em que deveria ingressar no Ginásio, a minha escola (pública) começou a implantar, gradativamente, o curso ginasial. Lembro bem, que minha mãe que acreditava na qualidade do ensino particular e religioso, onde se pregava os bons costumes, a moral e os princípios religiosos, queria que assim como meus irmãos, eu fosse para lá. Mas eu amava a minha escola e apesar da pouca idade tinha convicção que os professores eram excelentes e que o ensino era de qualidade.. Então, bati “pé”, e permaneci na escola pública onde freqüentei o primário, o ginásio e a Escola Normal onde já sai qualificada para o mercado de trabalho. Que “lástima” que perdi toda essa “convicção”!
Em 1970, quando vim residir em Porto Alegre, comecei a freqüentar uma Universidade particular (UNISINOS), destino da maioria dos alunos da rede pública, pois não resta dúvida que esses têm pouquíssimas chances de passar no vestibular, porque na escola particular o ensino é mais direcionado para essa finalidade. Tendência essa que desaparece nos cursos noturnos, onde essas escolas não se preocupam tanto em preparar seus alunos para o vestibular. Situação que estou vivenciando com meu filho mais moço que freqüenta uma dessas escolas em que são oferecidas inúmeras oportunidades para a aprovação do momento, sem uma maior preocupação com o futuro dos mesmos.
Elas proliferam no centro da cidade, bem próximas uma das outras, no intuito de acolher aqueles alunos que apresentam alguma dificuldade em freqüentar aulas regulares que, muitas vezes, por indisciplina e rebeldia se tornam repetentes. Embora, não oferecendo um ensino de qualidade, elas promovem a inclusão dos alunos, função primordial de toda instituição escolar, seja ela pública ou privada.
Também muitos pais de classe média alta matriculam seus filhos na rede pública nos anos iniciais e, depois quando chega ao Ensino Médio, os transferem para a rede particular de ensino, já antevendo uma melhor preparação e aprovação no vestibular, muitas com os chamados “terceirões”, com aula nos dois turnos.
Outro fenômeno comum acontece com as famílias de classe média matriculam seus filhos em colégios particulares mais acessíveis, geralmente menores onde funciona até o Ensino Fundamental e que quando chegam ao ensino Médio passam a freqüentar a escola pública; isso também ocorre quando essas famílias começam a passar por dificuldades financeiras.
Em 2003, quando trabalhava com uma turma de terceira série tive 5 alunos oriundos de escolas particulares pelos motivos mencionados. Lembro, nitidamente, que uma delas me falava que para que seu irmão estudasse numa escola particular ela precisou vir para a escola pública e que seus pais estavam investindo em sue irmão para que depois, quando formado, esse pudesse auxiliá-los na sua educação de seus irmãos menores.
Outro fenômeno bastante comum acontece quando os pais como castigo ou punição transferem os filhos da escola particular para a pública para “perceberem a diferença”; depois, regressam a escola de origem (particular).
Quando meus filhos atingiram a idade escolar, não agi diferente de minha mãe, matriculei-os em escolas particulares, pois achava que essas eram as ideais para meus filhos, mesmo que isso significasse sacrifícios pessoais e privações de outras ordens, tais como: investimento em lazer, viagens, etc...
Só depois que meus filhos se tornaram adultos comecei a lecionar. Mas creio que mesmo assim, não os colocaria em escolas públicas, nem tanto pela qualidade do ensino, mas, sobretudo, pelo índice de violência que predomina no ambiente da escola, pelo menos na escola onde trabalho é assim.
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