domingo, 19 de setembro de 2010

Reflexões das brincadeiras de meninas na escola e na rua


A criança camponesa brinca e relaciona-se com seus pares ao mesmo tempo em que convive com seus outros papéis e funções dentro da comunidade familiar, no cumprimento de suas tarefas. Ela constrói e vive o hoje, vive a sua história. Ela vive a história da sua família, da sua comunidade, da humanidade e seus brinquedos são "um mudo diálogo simbólico entre elas e o povo" (Benjamin, 1984, p. 70). Com isso, ela transcende sua realidade, extrapola-a volta ao ontem, dando possibilidades de construção de um novo amanhã.
É o outro que me constitui sujeito, me mostra quem sou, é na relação com o diferente de mim que vou alicerçando ou desconstruindo hipóteses, modelos. O outro me possibilita vivenciar sentimentos contraditórios colocar-me em vários papéis, exercitar o poder, dizer o indizível, viver o inimaginável enfim, na interação com o outro, a brincadeira alarga as fronteiras entre a fantasia e a realidade colaborando significativamente na construção da identidade das crianças.
Vygotsky (1984) aponta para a permeabilidade da fronteira entre o real e o imaginário, ressaltando que um alimenta o outro. A fantasia precisa da realidade como parâmetro, pois não se cria do nada; a realidade precisa da fantasia para relativizá-la, para suavizá-la, colori-la. Assim são, então, as brincadeiras: elas se entrelaçam nestas duas esferas e transitam entre elas, ressignificando-as permanentemente.
Para Brougère (1995), "a brincadeira é uma mutação do sentido, da realidade: as coisas tornam-se outras. É um espaço à margem da vida comum, que obedece a regras criadas pela circunstância. Os objetos, no caso, podem ser diferente daquilo que aparentam" (p. 99-100). Apesar das especificidades, há uma natureza humana que aproxima as necessidades de crianças e adultos: o jogo, o lazer, o devaneio, a brincadeira... Assim, brincar não é uma característica infantil, mas do ser humano; ação não-inata, mas aprendida de maneira não-formal, sob a égide da formação de cultura (produzida por todos).
As crianças da zona rural usufruem um estreito contato em família geralmente numerosas e pais, filhos grandes e pequenos coexistem de forma a possibilitar que cada um seja verdadeiramente importante e único no funcionamento familiar como um todo. Meninos e meninas brincam nas estradas de terra batida, na lama, no riacho que passa. Brincam ao puxar lata, rodar pneu, colher fruta, andar na bicicleta dos pais, catar capim na horta, recolher o gado, cuidar do bebê, amarrar a cabra no pasto, de bola, de comprar na venda, de correr. O trabalhar e o brincar da criança nesta comunidade caminham entrelaçados as crianças realizam tarefas diversas, dando a estas um caráter lúdico e singular.

Para nós é difícil aceitar que as meninas gostem exatamente das tarefas que tem que executar, mas ao longo da pesquisa a autora percebeu isso cada vez mais forte na forma de educar das famílias.O trabalho desde cedo, como aprendizado de vida  fortemente ligado à cultura, à tradição, está presente na fala das crianças e dos adultos.
Na sociedade que se industrializa, já não existe espaço para a criança: ou ela trabalha, ou é aluno, ou é assistida para adquirir condições para trabalhar e/ou estudar. Uma proposta educacional que resgate a infância, isto é, que permita à criança permanecer criança por algum tempo, não tem lugar na sociedade do trabalho (...). (Faria, 1993, p. 19-20)

A autora observou durante a pesquisa realizada que a escola da área rural de São José do Vale do Rio Preto, semelhante a maioria das escolas dos centros urbanos, não prioriza o lúdico em suas atividades e práticas pedagógicas

Também mencionou em seu trabalho que a relação entre brincar/trabalhar na área rural observada parece bem diferente do quadro vivido pelas crianças dos centros urbanos. Afirma que das crianças pobres são usurpados o direito de brincar ou de transformar em lúdica a sua relação com o trabalho Por outro lado, à criança burguesa é vetada a possibilidade de se emancipar, de viver o hoje: tudo a cerceia para ela se guardar para o porvir.
Eu concordo com esta sua conclusão, pois também vivi minha infância numa localidade do interior repleta de meninos e meninas: primos, vizinhos e amigos e também tinha a “obrigação” de cuidar da casa e de meu irmão menor, enquanto minha mãe e meu pai se dedicavam as lides da roça. Por isso, minha identificação e preleção pelo assunto. E como não poderia ser diferente. Vou usá-lo no meu TCC que contempla o lúdico dentro e fora da sala de aula e as diversas circunstâncias, comunidades e sociedades.

Reflexões do artigo:Brincadeiras de menina na escola e na rua: relexões da pesquisa no campo.
LEITE, Maria Isabel Ferraz Pereira

O artigo consta na interdisciplina de Ludicidade e faz parte do Eixo III.

2 comentários:

Patrícia_Tutora PEAD disse...

Neuza querida,

Como sempre, ótimas postagens! Não tenho comentado todas, pois estão de acordo com a proposta da disciplina neste semestre.

Está no caminho certo, tens feito excelentes buscas nos eixos anteiores. É bem isso que esperamos de vcs!

Se tiver alguma dúvida, grita!! =)

Abraços

Neuza Terezinha da Rocha disse...

Querida tutor Patrícia,

Fico feliz com os comentáris recebidos.Eles nos asseguram que estamos no caminho certo.

Bjs Neuza