domingo, 7 de novembro de 2010

COMENTANDO O TCC


5. Conclusões


Os professores devem pensar em práticas pedagógicas que desmistifiquem a idéia de que sejam os “donos do saber” e favoreçam-lhes assumir o legítimo lugar que lhes cabe nos dias de hoje, ou seja, o de mediador e condutor do processo ensino/aprendizagem, numa relação dialógica e horizontal entre seus alunos.
Cabe a eles, portanto, tomar a iniciativa de agregar, de recriar e reinventar estratégias pedagógicas que “quebrem” a mesmice de atividades pontuadas pela repetição do fazer pelo fazer com o intuito de levar o aluno a repetição de exercícios que privilegiam unicamente a memorização de conteúdos sem nenhuma significação e eqüidistantes da realidade e os interesses dos alunos.
Atualmente, o professor está submetido a uma agenda apertada imposta por uma escola representativa de um modelo econômico/político/social capitalista para o qual o mais importante são os fins e não os meios. Temos um modelo educacional que se diz inclusivo, mas que na verdade é excludente e discriminatório em que o aluno é avaliado por um coeficiente numérico e não pela sua capacidade de pensar, refletir, recriar e tomar decisões e iniciativas. Enfim, ser um sujeito de direito e de fato e como tal possa agir e participar na sociedade.
O educador atual precisa pensar, agir e planejar em consonância com a pluralidade e diversidade de modo a privilegiar a singularidade, isto é, ele precisa administrar a rotina da sala de aula de modo a contemplar os diversos recursos pedagógicos, possibilitando que todos tenham a oportunidade de expressar o seu modo particular de aprender e manifestar o seu saber.
Claro que não só o educador é responsável pelo modelo de escola e de educação vigente, muito menos ele é o único responsável pela organização dos tempos e espaços e tão pouco deveria ser o único responsável pelo desenvolvimento e aprendizagem dos alunos. Todo o esforço da equipe diretiva, do setor pedagógico e demais segmentos deveriam convergir para que isto sucedesse. No mínimo, o professor necessita se sentir apoiado para privilegiar na sala de aula uma educação plena, ampla que permita ao aluno a oportunidade de desenvolver e manifestar sua plenitude como ser humano.
Ainda predomina na maioria de nossas escolas um sistema educacional permeado e valorizado por conteúdos onde o fazer predomina sobre o lazer. Onde o lúdico é visto e execrado como “perda de “tempo” não condizente com um modelo arcaico onde alunos sentam-se enfileirados, um atrás do outro, “comportados” e o professor “despeja” conteúdos totalmente desarticulados da realidade e de seus interesses e depois lhes “cobra” na forma de testes e provas que sequer exigem uma dose mínima de raciocínio.
Mesmo que nos esforçássemos não conseguiríamos transformar a criança num ser sorumbático e imóvel; no mínimo na hora do recreio ela “põe” para fora toda a energia e a alegria que lhe é peculiar. Há também os horários de Educação Física que privilegiam os exercícios e as habilidades físicas e motoras. Mas isto é pouco tempo para aqueles que o que mais sabem fazer neste momento de suas vidas é o brincar, o criar, o inventar, o sair da esfera do real para o irreal e vice-versa.
A brincadeira entendida como experiência de cultura não é originária do nada. As crianças são parte de um grupo e como tal são portadoras e reprodutoras do modelo social em que vivem e através da brincadeira expressam este pertencimento. Foi com esta finalidade que resolvemos priorizar o lúdico em nossa sala de aula, pois embora não seja a única solução, há um consenso, entre muitos autores que as práticas pedagógicas lúdicas são balizadoras de uma educação transformadora.
Há muitos autores que falam da importância e contribuição do lúdico nas mais variadas esferas de atuação humana, contribuindo na manutenção da saúde física e mental tanto do adulto quanto da criança. Portanto, não há motivos que se justifique um modelo educacional alienado, na contra mão de algo considerado imanente ao ser humano desde sua mais tenra idade e que se propaga ao longo de sua existência com nuances e características de cada fase, infância, adolescência, e vida adulta.
Também os professores sabem muito sobre o lúdico e compreendem sua importância como fator primordial na tarefa de ensinar/aprendendo, apenas parecem um pouco “aturdidos” com tamanha avalanche de informações e a mercê de uma orientação segura de como vivenciá-lo em sala de aula sem cair na negligência ou em extremismos. Para trabalhar o lúdico o professor precisa também se expor, falar com seus alunos de seus sonhos, perspectivas e frustrações sem medo de ser ridicularizado ou cair na vala comum do sincretismo.
Há a necessidade de investimento por parte da Escola e da instituição governo como o grande responsável para que uma educação gratuita e de qualidade não seja apenas uma miragem ou utopia, mas para que isto se torne uma realidade é necessário também o esforço do professor para que no mínimo mantenha uma relação dialógica e de trocas entre seus pares.
Para que uma educação de qualidade de fato aconteça não é suficiente só a interação na sala de aula, entre alunos e professores e entre alunos é necessário que ela aconteça em todos os setores para que as experiências que deram certo e mesmo aquelas que não deram tão certo seja discutidas, analisadas e “curtidas” por todos.
Os professores precisam ser menos solitários, e mais solidários. Pois com certeza, há muita coisa de bom acontecendo dentro das salas de aula, por iniciativa própria do professor e que muitas vezes não são divulgadas nem sequer junto ao grupo e equipe diretiva. É necessário, pois, uma mudança de postura do professor nesse sentido.
Para Tardif e Raymond:
Em outras palavras, se é verdade que a experiência do trabalho docente exige um
domínio cognitivo e instrumental da função, ela também exige uma socialização na profissão e em uma vivência profissional através das quais se constrói e se experimenta pouco a pouco uma identidade profissional, onde entram em jogo elemento emocionais, relacionais e simbólicos que permitem que um indivíduo se considere e viva como um professor e assuma, assim, subjetivamente e
objetivamente, o fato de fazer carreira no magistério. (TARDIF & RAYMOND, 2000, p.239).

O trabalho aqui apresentado, utilizando uma mascote não foi uma invenção, pois a prática do brincar e, sobretudo, do brincar com “bonecas” é milenar; passada de geração em geração que permite à criança elaborar fatos do seu cotidiano, reelaborar conceitos, fazer ajustes psicológicos e reproduzir ações possíveis no futuro.
Também a introdução do boneco como prática pedagógica a fim de priorizar o lúdico não é algo de extraordinário. Já havia ouvido muitos relatos de colegas sobre a utilização e desenvolvimento desta estratégia pedagógica com seus alunos.
O boneco construído nesta investigação não foi, portanto, uma idéia revolucionária, mas sim um recurso simples, construído pelos próprios alunos em consonância com a professora. Tal atividade os auxiliou e os motivou para a construção do conhecimento de forma leve e prazerosa, evitando o estresse causado por alunos e professores desmotivados e desinteressados em aprender/ensinar.
Com certeza aprendemos uns com os outros, nas trocas de idéias, informações, sentimentos e realidades distintas, nos tornando um pouco mais íntimos, permitindo nos dar a conhecer melhor, através da fantasia, na ponte entre o real e o irreal, fortalecendo a auto-estima e nos permitindo sonhar com um futuro promissor.
O boneco, sem dúvida alguma, também foi o veículo facilitador, o fio condutor na interdisciplinaridade da aprendizagem e no processo do alfabetizar/letrando. Neste ínterim, circularam informações, conhecimento, conceitos, trocas e interações muitas delas descritas, narradas, outras tantas escritas, algumas com certeza não foram anunciadas e denunciadas claramente, ficaram nas entrelinhas... Na troca de olhares... Na cumplicidade e no entendimento, no desencontro, no conflito... No burburinho em meio a risadas e também em momentos mais contritos. Enfim, numa experiência vivida porque quem se dispõe a trabalhar com a ludicidade.
Como enfatizado por Paswel citado por Abramovich (1999, p.24): “Quando uma criança escuta a história que se lhe conta penetra nela simplesmente, como história. Mas existe uma orelha de trás da orelha que conserva a significação do conto e o revela muito mais tarde”.
Portanto, muitas vezes, a história falada, ouvida, lida e escrita fica armazenada no subconsciente, sem nenhum significado no presente, mas que mais tarde pode ressurgir no nosso consciente e nos auxiliar na hora de percorrer ou refazer um percurso ou trajetória de nossas vidas.
Também gostaria de esclarecer que o fato de preconizar o lúdico na minha prática pedagógica não foi empecilho para que desenvolvesse um Projeto de Aprendizagem com os alunos que se concretizou através do uso da tecnologia. Precisamos saber conciliar e explorar os vários recursos de que dispomos, tendo o cuidado de não cairmos em extremismos. Tanto o tradicional caderno como a tela de vídeo foram aliados no processo de letramento e alfabetização dos alunos, um complementando e enriquecendo o outro, em prol de uma educação de qualidade.
Posso afirmar que esta foi uma experiência carregada de emoções e de descobertas que permitiu ressaltar a importância de tais práticas lúdicas na dinâmica das aulas. Com certeza estas atividades podem resultar em alunos mais envolvidos, mais interessados, motivados e integrados no processo de aprendizagem.
Quando trabalhei conceitos sobre identidade o aluno V declarou que aquela aula fora muito boa. Expressões como estas animam e gratificam o professor e lhe dá a certeza que está no caminho certo, motivando-o cada vez mais na busca de novas e instigantes estratégias que contemplem o aprendizado de seus alunos.
Enfatizando as idéias de Luckesi (2005), o brincar é possível, adequado e saudável em qualquer idade e nas diferentes fases da vida e acrescentaria ainda em qualquer circunstância, tempo e espaço desde que nos entreguemos à atividade lúdica em busca de toda a ludicidade que dela advém, sem críticas, sem restrições ou falsos moralismos. Toda experiência lúdica é “suigeneris”, basta que a vivenciemos intensamente nos entregando e participando dela com toda a integridade de nosso ser.
Mesmo com uma agenda apertada, na contramão de uma sociedade divida que ora valoriza as atividades lúdicas, ora as encara como algo desnecessário, supérfluo e até mesmo depreciativo; o professor precisa dar-se ao luxo de “perder” tempo, para ouvir seus alunos, representantes legais e porta vozes dos seus anseios, desejos e necessidades e, juntamente com eles, pensar e planejar atividades que sejam objeto de motivação e de interesse em aprender, fazendo do ato de ensinar/aprender, um ato lúdico impregnado de prazer e alegria para que possa se prolongar pela vida toda e por toda a vida.
Segundo Schmidt, (2010, p.17) “nossas supostas perdas com os pequenos são ganhos em linguagem silenciosa que nenhum matemático, estrategista ou consumista poderá calcular”
Ao final, a experiência me ensinou que mesmo um boneco rude e tosco, sem grandes atrativos estéticos, mas carregado de significados para o imaginário infantil, pode ser o signatário e o desencadeador de um processo de aprendizagem permeado pela ludicidade.

2 comentários:

Patrícia_Tutora PEAD disse...

Sim querida! E neste caso o boneco passa a ter um grande significado, não é mesmo?!

bjs

Neuza Terezinha da Rocha disse...

Oi tutora Patrícia,

O boneco passa a ter significado, pois "passava" o final de semana na casa dos alunos. E essa é a "sacada". pois ao mesmo tempo em que brincavam com ele também faziam suas próprias produções.

Bjs